Voluntariado - Exército

quarta-feira, outubro 26, 2005

O Voluntário Inconsciente

Descobre as Forças Armadas, recebe alguma informação, faz poucas perguntas, não recorre a fontes de experiência, para uma informação avalizada da qual retire o melhor do que pretende atingir, não sabe para onde vai, mas pensa que sabe e é suficiente.

Apresenta-se nas fileiras, mas porque esteve pouco atento, vai passando pelas etapas da vida militar, como algo que tem que ser e por isso não questiona, nem se questiona tão pouco.

É pouco persistente, dizem-lhe que na tropa está tudo inventado e não adianta ter ideias novas, porque imensas barreiras se levantam, acredita que tem que se resignar, até porque desconhece o equilíbrio entre os deveres que lhe dizem que tem e os direitos que devia conhecer, mas também não se esforça para encontrar.

A sua energia inicial, com o tempo vai esbatendo-se, torna-se especialista em dar a volta ao sistema e o mais curioso é que acredita nisso, foge de si próprio, pensando que engana esse mesmo sistema, quando na realidade este é perene e tem que se enfrentar em consciência, porque a sua própria existência exige consciência nova.

Quando consegue raciocinar, dá conta que se tem andado a enganar, como já leva muito tempo no auto engano, é mais fácil continuar, até porque está indisponível para voltar a iniciar a caminhada de forma correcta.

Perde a noção da sua identidade e responsabilidade pessoal, na instituição e na própria sociedade, já assumiu uma identidade de cidadão com farda que pela contingência da vida, atrás de muros, ou vida de Quartel, tem dificuldade de relacionamento social.

Quando chega ao último dia da vida militar, não quer acreditar, mas a realidade é o que é e dela já não pode fugir, já não pode vestir a farda a que se habituou, porque foi a sua identidade e agora?

A inconsciência tem um preço demasiado pesado, mas é possível ser-se inovador, desde que se ouça os que foram o exemplo citado, porque se os conseguirmos ouvir, coisa que eles não conseguiram fazer, pelo menos os erros que eles cometeram já são evitáveis, esta é a mais valia da disponibilidade de partilhar e conseguir escutar com verdadeira atenção.

Em que patamar deste percurso estamos nós? Estamos a partilhar ou estamos a escutar?

quarta-feira, outubro 19, 2005

Forças Armadas Portuguesas à deriva




Desde a sua tomada de posse o Sr. Ministro da Defesa Nacional, Dr. Luís Amado, ainda não conseguiu dizer ao País de uma forma simples e objectiva que Forças Armadas pretende este Governo implementar no quadro Nacional e no âmbito das alianças de que Portugal faz parte, ao nível das quais tem participado a nível Mundial.

O recurso a Voluntários é a base destas Forças Armadas, como tal, é urgente não só definir-se de uma forma muito clara a sua missão ou missões, assim como reestruturar a forma, flexibilizando.

Desde 19 de Novembro de 2004, que as Forças Armadas Portuguesas recorrem só a Voluntários e o serviço militar existente de 1991 a esta data foi misto, ou seja, conscritos e voluntários.

Apesar de todos estes anos decorridos, temos algumas questões a colocar e sugestões:

Q. 1 – A questão primordial é a de que se a Sociedade Portuguesa está ciente desta transformação?

R. 1 – Claramente não.

Q. 2 – E porquê?

R. 2 – Porque se tem trabalhado em circuito fechado e de uma forma muito pouco cuidada ao nível da abertura à própria Sociedade, explicando, formando e informando. Daí notar-se um enorme desconhecimento dos cidadãos, sabem que o Serviço Militar Obrigatório acabou, que agora só vão Voluntários e ponto final.

Q. 3 – A quem interessa manter esta ignorância Nacional?

R. 3 – Ao País não interessa, principalmente porque esta ignorância, obriga a um enorme esforço de Marketing direccionado, que por isso perde a eficácia e aumenta os custos.
SUGESTÃO: - Cada Ramo das Forças Armadas Portuguesas faz o seu Marketing de angariação de Voluntários de mote próprio, às vezes em conjunto, mas sem interoperabilidade, quando deveria ser conduzido de forma coordenada e conjunta para uma melhor interoperabilidade de recursos Humanos e financeiros. Esta missão já está atribuída à Direcção Geral de Pessoal e Recrutamento Militar (DGPRM) do Ministério da Defesa Nacional (MDN), aliás como indica a sua própria orgânica, mas não se vislumbra.

Se pensarmos que um Voluntário só pode estar nas Forças Armadas Portuguesas, até um limite de 6 ou 7 anos, portanto numa situação precária, também porque uma grande parte dos Incentivos ou não funciona, ou funciona mal, isto durante a prestação do Serviço Militar. No seu final, também os Incentivos ou não funcionam, ou funcionam mal.
Ninguém sabe quantos militares já passaram à disponibilidade, que problemas têm ou tiveram e para onde e de que forma se estão a enquadrar socialmente.

Mais uma vez, esta é uma tarefa da DGPRM do MDN, que faz parte da sua orgânica, mas não põe a funcionar, tanto no apoio, como na orientação, bem como na divulgação de ofertas de emprego na área pública.

Por tudo o que foi apresentado, temos que dizer ao Sr. Ministro da Defesa Nacional, Dr. Luís Amado, que não pode continuar muito mais tempo escondido no seu Gabinete, porque como já vimos tem muito trabalho para fazer, como tal, que actue de forma adequada e a cumprir, pelo menos o que já se encontra definido, quanto à inovação que seja sustentada.

quarta-feira, outubro 12, 2005

Os Jovens Portugueses e as Forças Armadas

Desde 1991, que o poder político, independentemente do quadrante que ocupa, na sua sempre atitude antidemocrática, porque a pensar nos seus feudos, que por isso prejudicam seriamente todos os Portugueses, quase impôs sem a necessária avaliação e maturação a mudança de um modelo militar, que recorria a jovens que de forma obrigatória o tinham que cumprir, para um outro que recorre hoje a jovens voluntários, para a prestação do mesmo serviço militar.

Nunca existiu na Sociedade Portuguesa um debate, ou melhor, vários debates que tivessem permitido um acompanhamento por parte dos cidadãos de todas e cada evolução, nas mudanças que tiveram de ser implementadas na transição de um para outro sistema de serviço militar.

Assim, é falacioso falar-se que em Portugal se vive numa Democracia, isto porque se aos cidadãos não lhe é permitida a sua cidadania, como é que queremos que ela surja, uma vez que sem estímulo e abertura da classe política, ela é impossível.

Chamou-se Profissionalização das Forças Armadas, ao processo que levou, em Portugal, à implementação de um serviço militar com recurso a voluntários.

Como é que se pode aceitar que a juventude portuguesa desconheça as suas Forças Armadas, o que elas lhe podem oferecer e de que forma eles podem rentabilizar essa mesma oferta.

Temos um Ministro da Defesa que afirma publicamente que pessoalmente foi e é contra o fim do Serviço Militar Obrigatório “SMO”, portanto contra a Profissionalização das Forças Armadas. Assim como é que um Ministro, parado no tempo, pode contribuir para a honesta implementação de uma verdadeira Profissionalização das Forças Armadas?

Sem se definir que Forças Armadas, para quê e que recursos, está-se deliberadamente a contribuir para a destruição, porque sem rumo nenhuma organização consegue sobreviver.

Como tal, o Marketing utilizado para atrair os jovens Portugueses para a prestação do serviço militar voluntário, neste momento, é uma fraude, isto porque ninguém percebe para onde se quer progredir e pelos vistos, também, o Ministro da Defesa Nacional, Dr. Luís Amado, desconhece.

A manutenção propositada da ignorância social, relativamente às Forças Armadas Portuguesas, enquanto prevalecer, será um contínuo delapidar de recursos, isto porque sem estratégia nacional, conhecida, continuar-se-á a alimentar um monstro.

Em primeira e última instância, é responsável toda a classe política portuguesa, independentemente do quadrante, porque sabe, mas omite. Começando pelo Comandante Supremo das Forças Armadas, o Sr. Presidente da República Portuguesa, Dr. Jorge Sampaio, que desde sempre teve conhecimento, mas não impôs nem impõe a necessária acção, apenas teoriza.

Pelos frutos conhecereis a árvore, no que respeita às Forças Armadas Portuguesas, já só falta abater a árvore.

quarta-feira, outubro 05, 2005

O Voluntariado nas Forças Armadas e a Verdade

Um jovem meu conterrâneo, foi seduzido pelo Marketing utilizado na angariação de Voluntários para o Exército e apesar de muitas dúvidas decidiu candidatar-se.

Quando soube que eu tinha sido militar decidiu pedir a minha opinião.

Tinha feito os exames do 12º ano e estava à espera de resultados, mas a sua pressa de ingressar era muita, segundo ele para não perder tempo.

Aconselhei-o a ter calma, aguardar pelos resultados e na sua posse fazer a candidatura já possuidor do 12º ano, pelo potencial que ganharia.

No Centro de Recrutamento (CR) informaram-no que entrando, já, iria para Praça, mas com o 12º ano completo era muito fácil passar para Sargento ou para Oficial, isso para ele foi suficiente, não escutando a voz da minha experiência.

Já que a opção dele era essa, disse-lhe que pelo menos passasse pelo RV, porque poderia ser mais vantajoso para ele em termos de fluência, mais uma vez não escutou.

No CR também o informaram que para estudar, caso entrasse na Universidade, tinha todo o apoio, informei-o que essa questão dependia de imensos factores, como a distância à Universidade, a operacionalidade da Unidade e a boa vontade dos seus chefes, voltou a não ligar à experiência de quem foi militar RC, 9 anos e 3 meses.

Com a sua ingenuidade avançou, foi recrutado para Praça do Exército, entretanto soube das boas notas que obteve no 12º ano, candidatou-se e entrou na Universidade no Norte do País.

Após a Recruta e toda a instrução necessária, foi colocado numa Unidade do Sul do País, porque entrou na Universidade a Norte, a Unidade militar mais perto desta é no Centro do País, porque quer estudar começou a tratar de pedir transferência para esta.

A partir deste passo começou a sentir os diversos erros que cometeu. Na Unidade onde se encontra não lhe recebem o pedido de transferência, alegando que necessitam dos seus serviços, isto ao contrário do que se encontra estipulado, porque qualquer requerimento tem que seguir, isto até há obtenção de despacho definitivo.

Tentou juntar as horas para estudo, no sentido que lhe dessem um dia por semana para se deslocar à Universidade, não é autorizado. Começou a fazer contas, mesmo que fosse autorizado, o que ganha mensalmente não lhe permitiria essa deslocação.

Pensou em rescindir contrato, mas como não seguiu o conselho para meter RV, ou seja prestação de 12 meses de serviço, por sedução enganadora e sua iniciativa meteu RC, prestação de 24 meses de serviço, como ainda não completou sequer 12 meses, descobriu que se rescindir tem que pagar ao Exército uma indemnização de cerca de 10.000.00 Euros.
Neste caso, vislumbro duas questões graves, por um lado, a incapacidade do jovem de escutar com atenção a voz da experiência, por outro lado, a forma pouco séria como o Exército está a informar este e todos os jovens. Porque se encontram sozinhos, em situações que deveriam ter a quem recorrer para arbitrar, orientar e integrar no Exército da forma mais adequada para ambas as partes - O Provedor do Voluntário.

Este jovem é por tudo que se explanou, um sério candidato à deserção, não só por sua culpa, mas por inércia institucional que despreza quem deveria apoiar até ao limite.